terça-feira, 25 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dias 08 e 09

24/11/2008 e 25/11/2008 – Dias 08 e 09.

A âncora ergueu-se junto com o sol no horizonte e os ventos que estufaram as velas sopraram embora a tranqüilidade vivida nos dois últimos dias. O convés encheu-se de movimento novamente. Todos trabalhavam para colocar a nossa nau mais uma vez em seu rumo. Quem dera fosse assim ao longo de toda a nossa jornada.

Cada homem em si é um mar de expectativa pelo final de nossa viagem. A ansiedade ferve em nossas veias, o trabalho borbulha no convés, a madeira estala, as cordas tencionam e as velas impelem nossa embarcação através dos sete mares. No leme, a mão de um único homem, mas é o labor de todos que torna a terra firme cada vez mais próxima.

Assim passamos esses dois últimos dias: a todo pano e em nosso rumo verdadeiro. Algumas ondas maiores fazem os mais desatentos perder o desequilíbrio no convés, mas logo são reerguidos pelos gritos do contramestre. “Atenção marujo ou vais aprender a nadar com os tubarões”.

Cada um sabe o que o espera ao fim da viagem. Construído com paciência ao longo dos meses ou no desespero dos últimos dias, chama-se destino e cada homem é responsável pelo seu.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 21 dias para terra firme.
Ass: Sor – contramestre.

domingo, 23 de novembro de 2008

Engov pra quê???

Respondendo ao email de um amigo após uma festa.

Aí cara,

Não precisei de engov. A minha bebedeira foi curada pela viagem de táxi mais surreal da minha vida.

A coisa já começou estranha porque o táxi não levou nem 40 segundos pra chegar depois que eu liguei pra central. Quando eu abri a porta e olhei para o motorista, percebi - com alguma consternação, é verdade - que ele era a cara daquela caveirinha que fazia a abertura da série de Tv chamada Contos da Cripta. Não fosse o efeito do álcool poderia jurar que ouvi um lobo uivando, uma porta rangendo e som de correntes sendo arrastadas.

Quando falei pra subir pela Cristiano Fisher, o motorista pediu outro caminho, porque o Uninho não conseguiria subir. “Vamos por dentro”, sugeriu ele, o que significava passar no meio da vila Bom Jesus, que naquele carro parecia ser o mesmo que andar a pé na floresta das árvores mal assombradas. "Fudeu" foi a única palavra que me veio a mente. Por ser menos íngreme, decidi subir a Perimetral... cara, juro por Deus! Se eu fosse caminhando do lado do carro era capaz de eu passar por ele (é sério!). Carruagens de fogo foi a música que me veio na cabeça. Se eu colocasse o braço pra fora o carro parava. Como o velocímetro estava estragado, contei o tempo de subida: do jardim botânico até lá em cima, no viaduto da Protásio - uns seiscentos metros - foram quase 4 minutos. Em primeira!! Pelos carros que passavam por nós, imaginei que o tempo normal deveria ser de, no máximo, uns 30 segundos, nem isso. De longe vi uma sinaleira ficar vermelha, verde novamente e, graças a Deus, conseguimos passar no amarelo. Depois, lomba abaixo até a Anita, mas o sofrimento continuou: cada mudança de marcha parecia alguém dando uma martelada nos meus dentes. Descendo a Anita, preferi não pensar nas condições dos freios. Estava quase em casa.

Foi assustadoramente hilário. Com a descarga de adrenalina, fiquei sóbrio na hora e consegui acertar as três chaves em cada uma das respectivas fechaduras na primeira tentativa. Precisei ver 1/2 hora de Tv para ter sono novamente. Acordei zerado.

Depois dessa, engov pra quê?

Ass: Sor, o aventureiro da madrugada.

Diário de Sobrevivência - Dias 05, 06 e 07.

De 21/11/2008 a 23/11/2008 – Dias 05, 06 e 07.

Na alvorada do dia 21 (sexta-feira) avistamos a primeira das três ilhas que iremos encontrar ao longo de nossa rota. Pontos estratégicos para a tripulação descansar, fazer pequenos reparos no navio e reavaliar as estratégias.

Devido ao cansaço, o contramestre nada registrou em seu diário na sexta-feira, na ocasião da chegada à ilha. No dia seguinte, ocupou-se das atividades programadas para a data, até a noite, quando o capitão permitiu que os oficiais bebessem a vontade...




...um grande hiato formou-se na memória do contramestre, que conformado com a falta de dados consistentes para registrar, deixou seu diário de lado e tirou o domingo para recuperar-se, em absoluto repouso, de uma terrível dor de cabeça que o assolou até o fim da tarde, quando foi substituída por uma profunda decepção azul, preto e branca.

Amanhã seguiremos viagem.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 23 dias para terra firme!

Ass: Sor - Contramestre.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dia 04.

20/11/2008 – Dia 04.

Quinta-feira, dia da comunicação semanal entre contramestres, navegadores e capitães, que, via rádio, relatam suas desventuras pelos oceanos do mundo em seus navios. A maioria das embarcações já foi colida por borrascas e, fatalmente, perderem um ou outro marinheiro. Quem há muito dança sobre as ondas, sabe o quanto a morte é corriqueira para os homens que decidem se aventurar pelos sete mares e os mais calejados, diminutos frente a força da natureza, podem, no máximo, alertar aos marujos para que se preparem para enfrentar aquilo que os mais graduados enfrentam rotineiramente, ano após ano.

Todos os oficiais que participaram da comunicação aderiram ao consenso de que muito mar ainda está por vir e que é hora de disciplinar os sobreviventes e conscientiza-los que o momento exigi trabalho em turno dobrado no convés. Nem que as cordas abram feridas em nossas mãos, nem que a água salgada reaviva nossas chagas, nem que o sol fustigue nossos olhos, nós havemos de chegar.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 26 dias para terra firme.

Ass: Sor - Contramestre

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dia 03.

19/11/2008 – Dia 03.

Os ventos que sopravam forte trouxeram o amanhecer, anunciando que o dia seria laborioso para o navio e sua tripulação. A embarcação penetrou em uma faixa de mar perigoso e traiçoeiro e assim se manterá até quase o fim da viagem. O contramestre arrastou o seu corpo cansado para fora do alojamento em direção ao convés, onde os marinheiros de segunda classe já se preparavam para a primeira grande provação da parte final de nossa jornada. Tentando tornar a tarefa mais amena o contramestre permitiu que se organizassem em duplas de sua preferência para darem suporte um ao outro. Mesmo com os avisos do navegador, e até mesmo do capitão, alguns desafortunados não tomaram as devidas precauções para sobreviverem em um mar com ondas que formavam verdadeiros paredões.

Uma vaga colheu o navio a bombordo, fazendo-o adernar drasticamente. Os despreparados foram jogados ao mar. Enquanto as velas eram recolhidas, os botes salva-vidas foram lançados, partindo em busca dos homens que nadavam desesperadamente para se salvar. Dois deles recusaram-se a nadar em direção ao bote. Sem entender o porque desse comportamento, os tripulantes que remavam lançaram uma bóia para puxar os homens até a segurança. Mas não houve jeito, os marujos permaneceram indiferentes. Decidiu-se que não valia a pena, então, arriscar mais vidas para salvar duas almas que, aparentemente, se autocondenaram. Tomara que tenham aprendido a nadar sozinhos nos meses que se passaram, e atinjam a costa após o carnaval.

De volta ao navio, os homens resgatados agradeciam a nova chance para seguir viagem rumo a terra firme. A perda de companheiros foi um baque forte e todos se perguntavam que seria o próximo a nos deixar.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 27 dias para terra firme.

Ass: Sor – Contramestre.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dia 02.

18/11/2008 – Dia 2.

A manhã começou mais tarde para o contramestre, como tem ocorrido toda a terça-feira.

Chegando para o trabalho no convés os marinheiros de primeira classe estavam agitados e indisciplinados como sempre, mas sempre muito amigáveis e simpáticos. Um grupo onde impera a camaradagem. Infelizmente a correção de exercícios de hidrostática não parecia estar na lista de suas prioridades. Azar o deles! O trabalho, a organização e a disciplina na embarcação são tarefas sob a tutela do contramestre e, se necessário fosse, estava disposto a chicotear os insubordinados, ou até mesmo me valer da prancha, se o capitão estivesse de acordo. Aos trancos o trabalho foi parcialmente concluído e, observado o sinal, o contramestre encerrou as atividades. A camaradagem tornou a reinar.

O passo seguinte foi uma jornada dupla com os marinheiros de segunda classe, que protestaram, argumentando que nem a 2ª Lei da Termodinâmica, nem o ciclo Otto têm qualquer utilidade para uma vida no mar e que portando duvidavam da necessidade de adquirir tais conhecimentos. Temendo que esse pequeno ato de rebeldia pudesse virar um motim, argumentei de forma ríspida que esse pensamento tendia para a mediocridade e que, caso insistissem em mantê-lo, jamais poderiam aspirar a um posto de comando, nem sequer em um caiaque. O semblante emburrado foi o que o contramestre mais observou após o chiste.

25 minutos após a passagem meridiana o sinal tocou, encerrando as atividades da manhã. Intervalo para almoçar e ver Globo Esporte. Aproveitando uma inesperada calmaria o contramestre retirou-se para seus aposentos onde tirou um breve sestia.


O ventou voltou a soprar indicando que estava na hora de trabalhar novamente. O contramestre corrigiu algumas provas, preparou outras e organizou seus cadernos de chamada.

Dia cheio amanhã. Que Netuno nos proteja.

Faltam 28 dias para terra firme.

Ass: Sor – Contramestre.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dia 01

O fim do ano é uma verdadeira prova de fogo para alunos e professores. Faltando exatamente um mês para o fim das aulas já é possível saber quais são aqueles alunos que estão com uma situação mais tranqüila (trabalharam para isso ao longo do ano), aqueles que ainda estão com algumas matérias pendentes (perfeitamente normal) e aqueles que estão completamente desesperados (enlouquecedor). É desse último grupo que parte as maiores situações de stress.

O fim do ano letivo deve ter algum efeito de clarividência, ainda que tardio, sobre alguns alunos e pais que somente agora se dão conta das reais possibilidades de uma reprovação. No desespero, uma pequena minoria acaba questionando o trabalho dos professores, equipe pedagógica e direção no intuído de eximir o (não-) estudante das responsabilidades pela situação em que se encontra. Passar com a moral ilesa dessas acusações é uma verdadeira prova de sobrevivência.

17/11/2008 – Dia 1.

No dia de nossa partida encontramos o primeiro grande desafio de nossa expedição. Contornar o Cabo Horn de Leste para Oeste não é nada perto do que enfrentamos.

Conversei com os pais de um aluno do ensino médio(reparem: eu disse ensino médio) que tm a convicção, a certeza divina, tão óbvio quanto 1+1=2 de que, uma vez que o aluno não comunica em casa que ele tem tarefas para realizar e trabalhos a entregar, eu, professor dele e de mais 30 colegas dele e ainda mais 7 turmas, totalizando quase 250 alunos, devo registrar na agenda dele (sim! Na do aluno) as tarefas que ele deve fazer.

Resumindo: se os pais não ficaram sabendo em casa que o seu filho deveria entregar um trabalho importante, foi a escola que falhou na comunicação. Espero que as outras 250 famílias não pensem igual.

Foi um baque forte no nosso primeiro dia de viagem e apesar do choque a tripulação se mostra otimista frente aos novos desafios. Se os ventos soprarem mais favoráveis amanhã, o capitão acredita que poderemos retomar o rumo previsto. Que Netuno nos proteja.

Falta 29 dias para terra firme.
Ass: Sor - Contramestre

domingo, 16 de novembro de 2008

Discoteca Básica

Como já faz um tempinho que não coloco nada aqui e a ando na correriavidalocacabulosaénóis, vou colocar uma rapidinha.

Estou escutando nesse exato momento o disco JohnWesley Harding. Pra mim um dos melhores álbuns do Bob Dylan da fase elétrica. Destaque para clássica All Along the Watchtower, que foi regravada pelo Jimi Hendrix.

Não vou fazer nenhuma resenha do disco, simplesmente escutem.

See you folks.
Sor