sábado, 13 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Histórias Bizarras - Capítulo 1

Episódio de hoje:

A Vaca e o Ninja.

Cara, às vezes um ficou completamente apavorado com o que se vê por aí hoje em dia. Não, não estou falando de crimes, pobreza, tragédias e filha-da-putice em geral. Estou falando de coisas bizarras, daquelas que te fazem querer o colo da mamãe, tipo Jack Nicholson em O Iluminado. Daquelas que desafiam as leis da probabilidade, tipo ser picado por uma aranha radioativa e ganhar poderes aracnídeos. Daquelas que te fazem perguntar “Porque justo eu, caralho?”, que nem Moisés perguntou para o arbusto (ou árvore, sei lá) em chamas.

Voltávamos Bola, Soldado e eu (o burro vem na frente) do cinema, domingo, por volta de meia noite – serei obrigado a concordar se questionares a masculinidade desse encontro, caro leitor – quando, ao longe, avistamos uma caminhonete parada na sinaleira. Na caçamba era possível distinguir duas silhuetas humanóides. Até aí tudo normal. Mas é quando uma situação parece normal é que a bizarrice se potencializa. Quando chegamos perto, para assombro geral, percebemos que na caçamba estavam uma vaca, com uma long neck na mão, e um ninja, a dupla mais improvável de se conjurar em qualquer viagem lisérgica. Paramos o carro atrás da pick-up e eis que a vaca pergunta para nós: “Vai um leitinho aí gurizada?”, imediatamente o ninja começa a ordenhar a mimosa sonopláticamente: “tsc, tsc, tsc”. A sinaleira abriu e aquela visão permaneceu perturbadoramente em nossas lembranças.

Supra-sumo da bizarrice master.

Abraços – The truth is out there.
Sor.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Comunicado da Guarda Costeira

Para divulgação imediata.

TRANSCRIÇÃO DO CHAMADO DE MAYDAY DO DER SCHULE

O navio Der Schule começou a fazer água no dia 26/11/2008. Esse é o chamado de mayday do Der Schule para a guarda costeira.

DS: (inaudível) Mayday, mayday, mayday. Aqui é o Der Schule. Alguém na escuta?

GC: Positivo. Guarda costeira na escuta. Câmbio.

DS: Para a guarda costeira, aqui é o Der Schule. Precisamos de um (inaudível). Nossa posição é (inaudível)... oeste. Nós estamos afundando, a casa de máquina já está cheia de água. Ok?

GC: Entendido que estão afundando. Repita a posição. Quantas pessoas a bordo? Câmbio.

DS: (inaudível). 246 pessoas a bordo. Câmbio.

GC: Entendido. 246 a bordo. Repita a posição. Câmbio.
...
Fim da transmissão.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dias 08 e 09

24/11/2008 e 25/11/2008 – Dias 08 e 09.

A âncora ergueu-se junto com o sol no horizonte e os ventos que estufaram as velas sopraram embora a tranqüilidade vivida nos dois últimos dias. O convés encheu-se de movimento novamente. Todos trabalhavam para colocar a nossa nau mais uma vez em seu rumo. Quem dera fosse assim ao longo de toda a nossa jornada.

Cada homem em si é um mar de expectativa pelo final de nossa viagem. A ansiedade ferve em nossas veias, o trabalho borbulha no convés, a madeira estala, as cordas tencionam e as velas impelem nossa embarcação através dos sete mares. No leme, a mão de um único homem, mas é o labor de todos que torna a terra firme cada vez mais próxima.

Assim passamos esses dois últimos dias: a todo pano e em nosso rumo verdadeiro. Algumas ondas maiores fazem os mais desatentos perder o desequilíbrio no convés, mas logo são reerguidos pelos gritos do contramestre. “Atenção marujo ou vais aprender a nadar com os tubarões”.

Cada um sabe o que o espera ao fim da viagem. Construído com paciência ao longo dos meses ou no desespero dos últimos dias, chama-se destino e cada homem é responsável pelo seu.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 21 dias para terra firme.
Ass: Sor – contramestre.

domingo, 23 de novembro de 2008

Engov pra quê???

Respondendo ao email de um amigo após uma festa.

Aí cara,

Não precisei de engov. A minha bebedeira foi curada pela viagem de táxi mais surreal da minha vida.

A coisa já começou estranha porque o táxi não levou nem 40 segundos pra chegar depois que eu liguei pra central. Quando eu abri a porta e olhei para o motorista, percebi - com alguma consternação, é verdade - que ele era a cara daquela caveirinha que fazia a abertura da série de Tv chamada Contos da Cripta. Não fosse o efeito do álcool poderia jurar que ouvi um lobo uivando, uma porta rangendo e som de correntes sendo arrastadas.

Quando falei pra subir pela Cristiano Fisher, o motorista pediu outro caminho, porque o Uninho não conseguiria subir. “Vamos por dentro”, sugeriu ele, o que significava passar no meio da vila Bom Jesus, que naquele carro parecia ser o mesmo que andar a pé na floresta das árvores mal assombradas. "Fudeu" foi a única palavra que me veio a mente. Por ser menos íngreme, decidi subir a Perimetral... cara, juro por Deus! Se eu fosse caminhando do lado do carro era capaz de eu passar por ele (é sério!). Carruagens de fogo foi a música que me veio na cabeça. Se eu colocasse o braço pra fora o carro parava. Como o velocímetro estava estragado, contei o tempo de subida: do jardim botânico até lá em cima, no viaduto da Protásio - uns seiscentos metros - foram quase 4 minutos. Em primeira!! Pelos carros que passavam por nós, imaginei que o tempo normal deveria ser de, no máximo, uns 30 segundos, nem isso. De longe vi uma sinaleira ficar vermelha, verde novamente e, graças a Deus, conseguimos passar no amarelo. Depois, lomba abaixo até a Anita, mas o sofrimento continuou: cada mudança de marcha parecia alguém dando uma martelada nos meus dentes. Descendo a Anita, preferi não pensar nas condições dos freios. Estava quase em casa.

Foi assustadoramente hilário. Com a descarga de adrenalina, fiquei sóbrio na hora e consegui acertar as três chaves em cada uma das respectivas fechaduras na primeira tentativa. Precisei ver 1/2 hora de Tv para ter sono novamente. Acordei zerado.

Depois dessa, engov pra quê?

Ass: Sor, o aventureiro da madrugada.

Diário de Sobrevivência - Dias 05, 06 e 07.

De 21/11/2008 a 23/11/2008 – Dias 05, 06 e 07.

Na alvorada do dia 21 (sexta-feira) avistamos a primeira das três ilhas que iremos encontrar ao longo de nossa rota. Pontos estratégicos para a tripulação descansar, fazer pequenos reparos no navio e reavaliar as estratégias.

Devido ao cansaço, o contramestre nada registrou em seu diário na sexta-feira, na ocasião da chegada à ilha. No dia seguinte, ocupou-se das atividades programadas para a data, até a noite, quando o capitão permitiu que os oficiais bebessem a vontade...




...um grande hiato formou-se na memória do contramestre, que conformado com a falta de dados consistentes para registrar, deixou seu diário de lado e tirou o domingo para recuperar-se, em absoluto repouso, de uma terrível dor de cabeça que o assolou até o fim da tarde, quando foi substituída por uma profunda decepção azul, preto e branca.

Amanhã seguiremos viagem.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 23 dias para terra firme!

Ass: Sor - Contramestre.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Diário de Sobrevivência - Dia 04.

20/11/2008 – Dia 04.

Quinta-feira, dia da comunicação semanal entre contramestres, navegadores e capitães, que, via rádio, relatam suas desventuras pelos oceanos do mundo em seus navios. A maioria das embarcações já foi colida por borrascas e, fatalmente, perderem um ou outro marinheiro. Quem há muito dança sobre as ondas, sabe o quanto a morte é corriqueira para os homens que decidem se aventurar pelos sete mares e os mais calejados, diminutos frente a força da natureza, podem, no máximo, alertar aos marujos para que se preparem para enfrentar aquilo que os mais graduados enfrentam rotineiramente, ano após ano.

Todos os oficiais que participaram da comunicação aderiram ao consenso de que muito mar ainda está por vir e que é hora de disciplinar os sobreviventes e conscientiza-los que o momento exigi trabalho em turno dobrado no convés. Nem que as cordas abram feridas em nossas mãos, nem que a água salgada reaviva nossas chagas, nem que o sol fustigue nossos olhos, nós havemos de chegar.

Que Netuno nos proteja!

Faltam 26 dias para terra firme.

Ass: Sor - Contramestre