quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Livros Pereginos, Histórias Perenes.

Livros são seres itinerantes.

Essa essência andarilha de tais criaturas é comumente contrariada por pessoas que insistem em aprisioná-los em estantes e armários. Livros foram feitos para serem emprestados e, portanto, são nômades, que até podem voltar para o seu “dono”, mas precisam ser contemplados por novos leitores.

Cada um deles carrega mais do que a história que se propõem a contar. Cada novo leitor acrescenta um novo capítulo ao livro lido. A história de como aquele livro transformou ou acrescentou algo à pessoa que o leu. A história dos bons momentos que passamos durante a leitura e dos lugares onde o lemos. A história de instantes exclusivamente nossos. Uma história invisível, ilegível, que o livro conhece e sabe contar tão bem quanto aquela que carrega em seu título, mas que a outros não revela, pois não faria sentido.

Durante uma leitura, tenho o hábito de imaginar que pessoa conhecida iria gostar de ler tal livro e sempre que tenho a oportunidade procuro emprestá-lo para o lembrado. Acabo que nunca estou só nos momentos em que passo lendo, sou sempre acompanhado pelos possíveis futuros leitores da história que tenho em mãos. Se alguma vez já lhe ofereci algum livro emprestado foi porque me acompanhaste ao longo de suas páginas.

É bem verdade que muitos não voltam para mim, e livros custam dinheiro, mas enfim... De um livro lido perde-se apenas a posse, o resto ninguém nos tira. A minha história está espalhada nos livros que perdi e já me é consolo suficiente imaginar quantas novas histórias já foram e ainda serão acrescentadas à aquela que em cada livro eu escrevi.

Epílogo:

Ele anda inquieto, impaciente. Agita-se na estante embaixo da minha cama como se quisesse me lembrar que já faz três semanas que ele está ali. Acabado, lido. Ele quer ser folheado novamente, lido novamente. Ele quer ler novamente, ler a história de um novo leitor. Três semanas de obsolescência, três semanas fechado, três semanas de pó. Já sei para quem pretendo emprestá-lo e cada vez que o vejo ele me lembra dessa promessa ainda não cumprida. Cada vez que vejo a pessoa me lembro da agonia do livro. Não agüento mais! De sexta não passa!

Encontro vcs nas próximas páginas.
Ass: Sor

8 comentários:

Paula Bombardelli disse...

:o
depois do discurso de formatura, esse foi o melhor texto que tu já escreveu! se eu escrever um texto bom assim, tu me passa em física?

Sor disse...

Hehe...não! A vida é dura dona Paula, mas se resolveres escrever mesmo assim, terei prazer em ler. E o melhor: não precisa ser sobre física!

Deep Red disse...

Pois é, meu amigo, acho que é porisso que nos damos tão bem, inclusive como sócios livrísticos. Realmente as palavras lá contidas não merecem a clausura, principalmente após terem nos servido de fonte de informações, reflexões e sentimentos. É como não apresentar um amigo a outros amigos ainda ávidos por experiências novas. Abração.

Felipe Menegotto disse...

O problema é que hoje em dia os livros ficam parados nas estantes por falta de leitores.

Ziza disse...

Oi Rafael, cheguei aqui pelo meu filho que é teu aluno no Dohms e me passou o link.
Adorei o blog. Parabéns!

Bola disse...

Ficha 1!
Me candidato a hospedar temporariamente o peregrino indicado nessa última sexta-feira... se é que esse ainda reside em seus aposentos.

Sor disse...

Muito obrigado Ziza!

Reside sim Bola. É só pegar. Pra quem ficou curioso o livro se chama "Paratii: Entre Dois Pólos" do Amyr Klink. Muito boa leitura.

Anônimo disse...

que fofo, sor =)